Sunday, July 22, 2007

Filho da ilha

E agora, para fazer jus ao novo nome do meu blog:



FILHO DA ILHA (20-07-2007)


O que nasce na ilha não é seu filho.
Não é seu descendente.
Ele é a ilha.
Ele é a ilha em si, com todos os seus mistérios,
beleza, cheiros e sentimentos.
Ser filho da ilha é trazê-la no coração.
Ser filho da ilha é deixar de sê-lo para se passar a sê-la.
Os filhos da ilha tornam-se, eventualmente, na ilha.
E nós, que não deixamos de ser seus filhos,
esperamos a nossa vez de sermos,
de nos tornarmos num corpo verde e cheio de vida.


3 comments:

Anonymous said...

"Os filhos da ilha tornam-se, eventualmente, na ilha."

Que o diga o Alberto João e a sua Madeira...

Anonymous said...

Gostei de ler o seu poema.
Há cerca de dez anos atrás, curiosamente escrevi algo, que intitulei também, "Filha da Ilha".
Sou uma filha da ilha. Nasci e cresci, tendo por horizonte o azul infinito.
Considero-me uma ilha na medida em que entendo a minha individualidade como ser humano. Posso comunicar com os outros através do mar, mas não deixo nunca de estar só e nunca me fundo/confundo com os outros.
Sou uma filha da ilha, na medida em que a minha condição natural de ilhéu me transformou na própria ilha. A ilha não me abandona. Vivo longe dela, mas transmutei-me em céu e mar. Sinto-me uma montanha oceânica. A ilha está em mim. Sempre. A ilha é a minha essência. Tornou-se mais do que a memória das paisagens da infância que, em certos momentos, faz ainda inundar de água, os meus olhos de menina, que cresceram para ver o mundo. O mundo escondido para além do mar... O mar, a grande aventura...
A grande aventura é ser-se filho da ilha! É ser-se uma ilha sólida no meio do tumulto despersonalizante da vida quotidiana, olhando o azul sem fim, atento às mensagens que cada onda nos trás... Mensagens de outras ilhas como nós.
Sou uma filha da ilha. Tornei-me na própria ilha.
Serão limitados os horizontes de um ilhéu? Não sei. Penso que não. São infinitos como o mar.
Talvez só um ilhéu possa compreender o maravilhoso sentimento de se ser azul sem fim...

Daisy Caladwen said...

uau... obrigada anónima pelo seu comentário excelente